28 de janeiro de 2009

Vice, bola na trave e doze pontos

Humberto Innecco
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Um espirituoso e contundentemente provocador amigo que tenho costuma dizer que “vice, bola na trave e doze pontos são a mesma coisa...” Ou seja, metade de nada é nada mesmo. É uma galhofa provocadora mas que, no Brasil das inenarráveis idas e vindas políticas, tem um lastro de verdade absoluta. A indicação do Vice é o tempero de composição de chapa: ou entra com dinheiro, ou entra com projeção política. Acabada a eleição se acomoda a questão encostando o vice em um gabinete modesto com um salário gordo, uns cargos daqui e dali... e o mundo continua girando. Ultimamente virou moda ter como vice uma mulher. É conveniente, satisfaz ao senso comum a valorização do sexo feminino e passa um certo reconhecimento do valor da mulher como membro atuante da sociedade. Mas poucas vezes o vice tem papel atuante. E deveria ter. Afinal, se considerarmos o aspecto financeiro, é muito dinheiro para posar de rainha da Inglaterra: em torno de 144 mil reais por ano! São 12 mil reais por mês... E, convenhamos, é muito dinheiro para ser uma figura decorativa como acontece na maioria absoluta das cidades. A menos que, de fato, essa dinheirama seja para reembolsar as despesas efetuadas na campanha, por baixo dos panos ou não. Não posso crer nisso, ainda mais se tratando de uma pessoa como a Gilda Molica, de quem sempre tive informações muito positivas.
Pelo lado da projeção política, considerando o outro lado da indicação, a figura de uma senhora que luta pela cidade e pela união de mulheres atuantes me faz pensar que, a nossa vice tem uma oportunidade única de, abrindo mão de vaidades e delírios de poder inerentes à maioria dos eleitos, reconsiderar o montante de sua remuneração e, na impossibilidade legal de rever seu valor, valorizar sua aplicação em benefício do povo. Me explico: quando se candidatou, acredito, não foi pelo dinheiro e sim pela oportunidade de ajudar à cidade e seus munícipes; nada mais justo que, agora, eleita, faça uso de uma parcela mínima e necessária para seus gastos pessoais com locomoções e alimentação e destine o resto para a criação de programas e atividades para a parcela social mais necessitada da população, ou será que a vice não pode abrir mão de nenhum centavo desses 12 mil?... (será que antes de eleita ela recebia tanto assim?). Acredito que deixar o cargo de rainha da Inglaterra para quem de direito (a esposa do prefeito) e atuar abertamente nos projetos da cidade, seria no mínimo inovador, para não dizer ousado, como convém a uma pessoa que milita pelo bem comum; o sustento do político deve ser sua profissão e não sua legislatura ou seu cargo executivo. As verbas de representação se tornaram indecentes por refletirem as necessidades espúrias de contemplar cada aspone e cada bajulador.
E o prefeito, por sua vez, deveria agir de forma semelhante. Afinal, verbas para combustível, passagens, hospedagens, alimentação e sustento da “enturrage” que o acompanha nas viagens deveria ser paga com sua remuneração pessoal de prefeito e com a remuneração de cada acompanhante. E não pelas verbas e dotações públicas mais uma vez, como é feito em todos os municípios. Seu sustento deve ser de suas rendas pessoais e não de rubricas de mordomia. Isso seria, no mínimo, decente. Luis Carlos, deve usar a vice como usa um secretário. Solicitando, cobrando e incentivando uma participação atuante e responsável. Que haja desentendimentos, falhas de comunicação, mesas redondas para acertar ponteiros... Mas exista sobretudo lealdade, honestidade e vontade de servir.
Que cada um seja o chicote, no bom sentido, do outro para que o desânimo e a descrença não se tornem lugar comum.E assim, o tempo dirá se essa dupla será um casal 20 que somou suas potencialidades... ou será mais um casal zero, que perdeu a oportunidade de somar e acabou subtraindo o melhor de cada um. A cidade aguarda, ansiosa. O povo quer atitudes ousadas e eficazes. A população almeja por três és: Eficiência, Efetividade e Eficácia... O estado da cidade mostra que Itatiaia não conheceu, em seus quase 20 anos, essas palavras de perto. Cabe à nova administração mostrar seus significados com práticas diferenciadas, melhores e permanentes.
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O autor é professor e jornalista

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